Você já deve ter visto essa história, assim como eu, dezenas de vezes: ex-colegas da faculdade ou amigos próximos resolvem montar uma startup. No começo, os próprios sócios dão conta da maioria das atividades da empresa, inclusive das demandas relacionadas a Recursos Humanos — é óbvio que uma startup não tenha condições, no início, para criar uma área de RH.
A maioria dos empreendedores não considera contratar um especialista em Recursos Humanos antes de resolver questões como geração de demanda e financeiras, além de incorporar ao time as pessoas necessárias para fazer a empresa funcionar.
A prioridade é compreensível e eu, se questionado, aconselharia o mesmo. Agora, isso não quer dizer que as demandas de gestão de pessoas não sejam latentes desde o início das atividades.
Investir na experiência ou apostar na gestão de talentos promissores?
Quem acompanha o dia a dia das startups sabe que é sempre crítico preencher as posições iniciais, pois geralmente as pessoas contratadas se tornam responsáveis pela área em que entraram. O CEO da Conpass, Ivan Biava, uma das startups para as quais faço mentoria, aponta um dilema com dois possíveis caminhos:
1. Estruturar muito bem a área para a qual está contratando e treinar um novo funcionário, um talento promissor. Esse processo é mais barato, porém há mais necessidade de treinamento e gestão do novo funcionário.
Ou
2. Contratar alguém com mais experiência, que entre atuando plenamente e estruture a área. Mais caro, porém há menos necessidade de treinamento e gestão.
Em geral, a startup não pode pagar pelo mais caro, porém não tem a expertise típica de Recursos Humanos, e não sabe como recrutar, selecionar e treinar talentos. Caso não sejam bem ocupadas, essas posições iniciais e estratégicas impactam negativamente a empresa.
Os Recursos Humanos e a maturidade das startups.
Esse mergulho no ecossistema das startups me mostrou que, na maioria dos casos, a evolução de uma startup pode se dar de duas formas extremas: ou não há recursos para contratar, ou o faturamento chega a alguns milhões e, então, é preciso passar de 15 para 100 funcionários em um ano. O segundo cenário é uma realidade hoje em dia. Mesmo com a economia em recuperação, basta olhar a quantidade de startups no geral que estão contratando.
Esse aumento rápido de funcionários evidencia um grande desafio: criar uma cultura desde o início, quando os sócios estão ocupados com tantas outras questões importantes. Como manter a informalidade do ambiente de inovação e empreendedorismo com a responsabilidade de uma empresa maior que precisa entregar resultados? Em recente visita a Exact Sales, tive a oportunidade de conhecer o excelente trabalho de Recursos Humanos da startup e ouvir o mantra da cultura da empresa.
“Somos acolhedores com pessoas e duros com metas”
É o que me disse a Vanessa Ronque, coordenadora de Gestão de Gente na Exact Sales.
Primeiro os alicerces.
Em grande parte das startups das quais sou mentor, Recursos Humanos é um assunto quase sempre deixado para depois. Infelizmente, as pessoas se esquecem de que uma cultura não pode ser desenvolvida de uma hora para outra. Afinal, para construir uma casa é preciso ter, primeiro, os alicerces.
Outro ponto crítico dessa história e que também diz respeito a Recursos Humanos é o relacionamento entre os sócios.
No início da sociedade, a divisão de percentuais e cotas é fácil de fazer. No entanto, em pouco tempo aparecem as diferenças na entrega dos sócios. É difícil separar o percentual da empresa do valor do labor. Então surgem as disputas de poder e as brigas.
O investimento e a ênfase que acontece com Marketing, Jurídico e Vendas nas aceleradoras deveria ser refletido também na área de Recursos Humanos.
Pessoas: fardo ou ativo?
As pessoas são o maior ATIVO da maioria das empresas. No entanto, os colaboradores muitas vezes são gerenciados quase como um verdadeiro fardo a ser carregado.
Tudo isso mostra que desde o primeiro funcionário contratado existe a necessidade crítica da gestão de Recursos Humanos. E digo mais. Em uma startup, os colaboradores devem ser vistos como uma forma especial de clientes. E qualquer startup sabe o quão difícil é descobrir e desenvolver novos clientes.
Moral da estória:
Questões típicas de Recursos Humanos, como relacionamento, cultura, ambiente, contratações e conflitos, sempre vão existir. Mesmo que você não tenha uma área de RH estruturada, é preciso aceitar que esses assuntos impactam diretamente na saúde e no crescimento dos negócios. Alguém precisa cuidar disso logo. E provavelmente essa pessoa é você!